História
Regional e Local
Pesquisas em História Regional e
Local vêm se configurando como um dos novos desafios propostos pela
historiografia recente. A História Local não estuda apenas acontecimentos de
grandes amplitudes sociais, mas se dedica a histórias sobre pessoas comuns do
local em que estão inseridas. Ao estudar pequenas localidades, os historiadores
poder prender sua atenção “em uma região geográfica particular, cujos registros
estivessem bem reunidos e pudessem ser analisados por um homem sozinho” (Raffestin apud Barros, 2005). No texto “Considerações
sobre História Regional”, Aldieris Braz Amorim Caprini nos chama a atenção
para a importância em se realizar pesquisas enfocando a História Local para se
conhecer melhor a história do Brasil. Essa especialidade da História tem por um
de seus objetivos valorizar as peculiaridades; como ela focaliza pequenos
mundos, é capaz de alcançar viveres e saberes populares em dimensões que as
macro-abordagens não conseguem atingir. O historiador que dedica seus estudos a
História Regional interessa-se em estudar uma região específica, levando em
consideração as relações sociais que se estabelecem dentro do espaço em
consideração. Desta forma, o espaço regional não é limitado levando em
consideração apenas os aspectos geográficos, mas refere-se também a aspectos
antropológicos, culturais, políticos, entre outros. Assim, ao estudar uma
determinada região, o historiador pode defini - lá através de alusões
antropológicas, culturais, econômicas, políticas, entre outras. Caprini faz uma
compilação de considerações que devem ser verificadas ao trabalhar com História
regional e Local:
- o pesquisador deve ter identificação com o
assunto – como em qualquer pesquisa –, nesse caso deve ainda apresentar
afinidade com a região em estudo, fazendo-se necessário uma relação, afinidade,
entre pesquisador e objeto de estudo;
- o pesquisador deve estar ciente de que a história
regional vai lhe trazer algumas implicações no que se refere às fontes. Na
maioria das vezes, os documentos não estão em arquivos públicos organizados e à
disposição para a pesquisa, sendo encontrados em posse de famílias, que, muitas
vezes não se sentem à vontade em ceder suas fontes para pesquisas;
- quando o historiador chega ao documento, terá que
organizá-lo para depois trabalhar;
- as fontes orais são importantíssimas no estudo
regional, mas cabe ao historiador saber conduzir sua escrita para que a
pesquisa não fique comprometida com os interesses do entrevistado ou a
distorção das respostas;
- as fontes secundárias são escassas ou não
existem, na maioria das vezes, pois sua pesquisa pode ser pioneira sobre aquela
região. Isto se constitui em outro ponto interessante sobre a História
Regional, pois o pesquisador não vai ter um livro ou outras pesquisas para nortear
seu trabalho, o que demanda mais tempo para organizar a pesquisa;
- como, na maioria das vezes, o pesquisador
regional convive com seu objeto de pesquisa, ele poderá ser questionado sobre
as conclusões apresentadas, que muitas vezes não são o que o objeto de estudo
gostaria que fosse apresentado.
- necessário recorrer ao referencial teórico e ao
rigor científico.
- o pesquisador regional deve se posicionar perante
seu ofício a partir de teorias e metodologias de pesquisa.
Desta forma, as pesquisas em
História Regional devem ser incentivadas, em especial pelas diversas
universidades do Brasil, tanto em cursos de graduação como de pós-graduação,
pois essas pesquisas podem resgatar a cultura e a identidade da região onde são
realizadas, contribuindo para conhecermos um Brasil pouco pesquisado,
entretanto, que possui muitas histórias para contar e só espera por alguém
disposto a ouvi-la, analisá-la, desvendá-la e publicá-la.
Agnaldo de Sousa Barbosa explana,
no texto “A propósito de um estatuto para a História Local e Regional: algumas
reflexões”, entre outros assuntos, sobre o preconceito que ainda existe em
relação à História Local e Regional, em que alguns pesquisadores a consideram
como sendo uma “história menor, de status inferior”, desta forma, ele busca
acordar para a necessidade de superar tal visão, em especial no meio acadêmico,
tanto nacional como internacional, já que esta modalidade da História investiga
as singularidades e diversidades existentes na História, sendo portadora de
grande importância, já que trabalha com as realidades particulares do local em
estudo.
O autor propõe a
definição de um estatuto para a História Local e Regional, sendo que o mesmo
deve ser constituído com a noção de tempo dos lugares e historicidade
dos espaços. Sobre tempo dos lugares, o autor refere-se ao “tempo que é
próprio de cada espacialidade e por isso diferente da noção utilizada pela
história que trabalha com explicações sob parâmetros macro-analíticos” e sobre
a historicidade dos espaços ele propõe “que a delimitação dos recortes
espaciais seja feita levando-se em conta a historicidade dos espaços. Assim, a
definição do que é o local ou a região vale-se, criteriosamente, da observação
das relações orgânicas que determinada espacialidade mantém com outra em diferentes
momentos históricos. Desta maneira, a noção de espaço local ou regional é
flexível e suas modificações derivam dos movimentos e do curso da história”.
Desta forma, o interesse de um historiador que se lança sobre a pesquisa do
local é estudar uma região específica, ou seja, determinada espacialidade. Este
espaço pode se referir a um recorte cultural e/ou antropológico, entre outros,
e não necessariamente a um recorte geográfico.